Ponto de Interseção

O jornalista Fernando Lemos lança seu olhar crítico e provocativo sobre temas atuais, alimentando um debate sobre o Ponto de Interseção ao qual a Humanidade vem se submetendo para desfrutar dos "benefícios" da modernidade, sob a ótica da Naturologia e de um dos mais importantes gurus do ideal naturopata, Efraín Melara.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Melara

O tratamento sintetizado e sistematizado por Melara não tem similar no mundo. Porque ele parte do princípio de que as doenças não existem, e que por isso mesmo também a cura não existe. Ele não busca a cura, como todos os que trabalham na busca da saúde, seja na alopatia ou na homeopatia, seja na medicina chinesa ou na medicina ayurvédica. Ou mesmo no que chamam de Naturopatia, diluída pelo sistema. Ele simplesmente desenvolveu métodos para reequilibrar o organismo, que levam ao desaparecimento de todos os sintomas, desde que ainda haja o que ele chama de mínimo vital, pouco importa a gravidade. Para ele, não existe uma diferença básica entre um paciente que tem gripe ou câncer. Ele vai realmente às causas, não usa nenhum tipo de medicamento, apenas a natureza e seus conhecimentos ancestrais. E os resultados são extraordinários.

E ele é a prova viva da eficácia de seus métodos: aos 87 anos, tem poucos cabelos brancos, poucas rugas, uma incrível energia, acorda todos os dias às 4 horas da manhã, faz ginástica, corre em volta da chácara onde mora, lê e escreve sem parar, atende os pacientes pela ordem de chegada duas vezes por semana, jamais fica doente e está sempre de bom humor.

Herdeiro da tradição dos druidas, a elite científica e intelectual dos celtas, Melara é descendente direto dos maias, aborígenes que ocupavam a região onde hoje se localiza a América Central, para ele a antiga Atlântida, uma civilização muito avançada. Melara rejeita a herança dos colonizadores, que para ele apenas destruíram uma civilização avançada, pacífica, substituindo-a por uma civilização doente.

Melara foi do Partido Comunista, exilado político, guerrilheiro, sofreu torturas, foi amigo do revolucionário cubano Camilo Cienfuegos, braço direito de Fidel Castro, conviveu com Ernesto Che Guevara, trocou correspondências com Fidel, mas não se tornou um político.

Os senhores devem estar se perguntando por que a vida de um salvadorenho que mora isolado no interior do Brasil, de forma modesta, pode interessar aos telespectadores de outros países. A explicação é simples: por causa dos impasses civilizatórios que colocam em risco a própria sobrevivência do planeta – mudanças climáticas, aquecimento global, degelo nos pólos, desastres naturais, esgotamento dos recursos naturais, desertificação da Terra, superpopulação, fome e miséria globais, guerras e aumento da criminalidade e a degeneração da espécie humana pela perda da saúde. Simplesmente porque o homem tomou o caminho errado, desrespeitando as leis biológicas, o que levou às chamadas doenças, ao descompromisso com a natureza e ao desenvolvimento de uma civilização doente, até chegarmos aos impasses com que nos defrontamos, após mais de dois mil anos de história.

Melara é, por opção, um homem recluso, que vive modestamente em uma chácara na periferia de Brasília, capital do Brasil, que não faz propaganda de seu trabalho, que não se expõe em palestras ou seminários, que não tem site na Internet, que edita seus livros em edições caseiras que não são encontrados em livrarias. Não busca a fama, nem dinheiro, nem reconhecimento, nem fila de gente na porta de seu consultório. Ele escreve, pesquisa, amplia seus conhecimentos para deixar pegadas profundas para a posteridade através de seus livros e do seu sistema de busca da saúde.

Tem 11 livros publicados, 7 prontos ou em gestação aguardando publicação, dezenas de folhetos que distribui gratuitamente, sobre a Naturopatia. Sintetizou e organizou todo um conhecimento milenar - a naturologia, a naturopatia, a iridologia, as naturoterapias, que descreve em seus livros e transmite a umas poucas pessoas com quem se relaciona e a sua mulher, Consuelo, que vive com ele há 40 anos.

Melara é um cientista. Não é espiritualista, nem místico, nem religioso, nem esotérico. Mas seus ensinamentos têm muitos pontos de contato com os chamados mestres iluminados, na medida em que, através da limpeza orgânica e do sangue intrínsecos ao seu tratamento, as pessoas conhecem o que podemos chamar de estado meditativo, de focar o pensamento, de se livrar do interminável diálogo interno, do pensamento sem freios – que, para ele, é uma das mais graves “doenças” da Humanidade. Através de seu tratamento, as pessoas aprendem a desligar o mecanismo do pensamento, como ensinam os grandes mestres orientais. Mais do que aprendem: são levadas a isso, pelo equilíbrio funcional e orgânico. E, em certo sentido, Melara é religioso – no sentido de re-ligar o homem às suas raízes, ás suas origens.

A diferença é esta: Melara vai às raízes. Às causas. Através da ciência.

domingo, 25 de março de 2007

A Naturopatia

A Naturopatia é uma ciência milenar. E, ao mesmo tempo, mais atual do que nunca. Também é pouco conhecida, porque anda na contra-mão da cultura oficial e dos ditames da civilização. É a medicina do equilíbrio, que não usa medicamentos, não acredita em enfermidades e por isso mesmo não busca a cura. Uma medicina que não é curandeira. A Naturopatia ensina como viver com saúde sem tomar medicamentos. A Naturopatia busca a saúde sem se preocupar com doenças, apenas com a desintoxicação. Mas como funciona a Naturopatia?

Para começar, a Naturopatia se baseia, para avaliar o grau de intoxicação do indivíduo, em outra ciência milenar, a Iridologia – já que na íris do olho, por causa das terminações nervosas, ficam registradas como num mapa do corpo humano as acumulações tóxicas, as disfunções do organismo humano, a desordem celular.

Outra ciência milenar, a Trofologia, já percebida por Hipócrates – conhecido como pai da medicina - em seus aforismas, quando disse que o homem é o que ele come, e “que o seu alimento seja o seu medicamento”, é a base da Naturopatia, já que, para ela, as enfermidades são resultantes do que o homem come, bebe, respira e introjeta em seu organismo.

E, como não existe efeito sem causa, quando as causas são eliminadas, com a substituição da alimentação protéica, carnívora e industrializada, hábitos errados, vícios, os efeitos – as enfermidades – desaparecem, mas sem que se possa dizer que houve cura.

Para eliminar o que, através de sua cultura, o organismo do ser humano acumulou, interferindo em seu funcionamento, a Naturopatia recorre às Naturoterapias, que se socorrem apenas dos elementos da Natureza e da Gimnoterapia e da Ginástica Oftalmológica, que começou a ser aplicada pelo norte-americano L. Wander.

As Naturoterapias são: a Helioterapia (uso do sol); Hidroterapia (uso da água, sintetizada há centenas de anos, na Europa, por Luiz Khune, terapeuta alemão); Geoterapia (uso da terra, do barro e da argila); Eoloterapia (uso do ar, por exemplo, em exercícios respiratórios, como os iogues conhecem há milhares de anos), além de massagens (Massoterapia e Talassoterapia).

A Naturopatia não se socorre de nenhuma medicina – nem da Homeopatia, nem da Fitoterapia, nem da medicina chinesa, nem da Acupuntura, nem da medicina ayurvédica.

Existem ou já existiram escolas de Naturopatia em países como Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, México, Alemanha e Argentina. Mas, no Brasil, mais precisamente em Brasília desde a década de 60 reside e trabalha o naturopata de El Salvador, Dr. Jose Efrain Melara Mendez, que conseguiu pesquisar, formular e sintetizar todos os conhecimentos desta ciência milenar, sendo responsável por centenas de cases de recuperação de enfermos crônicos ou agudos, desenganados pela medicina alopática, com as mais graves enfermidades, como dezenas de manifestações diferentes de câncer, lepra, Aids, diabetes, glaucoma, epilepsia e outras assim chamadas “doenças”, sem uso de nenhum medicamento.

É esta ciência milenar e atual, tendo como guia o Dr. Melara e alguns de seus pacientes, com pesquisas feitas no mundo inteiro, que a Dharma Filmes e Produções pretende mostrar, na série Ser Natural.

A Iridologia, as Naturoterapias, as massagens, as terapias que se dispõem a tratar do corpo, a eliminar as couraças musculares que bloqueiam os seres humanos pela repressão e por uma cultura antinatural, a meditação como estratégia para viver o momento presente, serão alguns dos temas a serem tratados nesta série.

Como a Humanidade, a cultura e a civilização foram influenciadas a partir do momento que o ser humano se desconectou da natureza, passando a querer dominá-la.

O que a noção do tempo, a invenção do comércio e do dinheiro, as guerras, as invasões e ocupações, a democracia, a medicina, as ideologias, a Igreja, a Inquisição e o monoteísmo, a destruição das matas e florestas, a poluição e o efeito-estufa têm a ver com a Naturopatia.

Aprenda a se movimentar no trânsito da Humanidade sem se contaminar com ela. A maior transgressão é ter saúde. A maior transgressão é Ser Natural.

É o que pretendemos mostrar nesta série, Ser Natural.

sábado, 24 de março de 2007

A grande ficção

Você tem idéia de que está vivendo como parte, como ator de uma grande ficção? Você tem idéia de que está imerso em uma cultura que separou o homem da natureza, a parte do Todo, e que obriga você a viver uma anti-vida? Você tem noção de que nossa cultura competitiva, nossa ânsia pelo crescimento econômico, estão levando à destruição da vida? Você tem idéia das razões para você não lutar para sair desse círculo, desse globo da morte?

Vejo tudo de cabeça pra baixo... estou andando a pé e solitário na contramão de uma auto-estrada, os carros desviando, buzinando feito loucos... e eu andando, sem me cansar. Sem ligar pro trânsito enfurecido. De repente não estou mais numa auto-estrada. Estou no alto de um pico muito alto, olhando de longe para uma enorme megalópole, a multidão indo pro trabalho, os carros buzinando num grande engarrafamento, as nuvens de poluição como rolos de fumaça que sobem, mas não me atingem. Sirenes de polícia, tiros, ambulâncias levando doentes, acidentados. Muito sofrimento – tanto, que chega a subir um vórtice de energia carregada até as nuvens. Berrando. Chorando. Eu sou um observador distante, mas próximo, que acompanha tudo como um grande filme. Agora estou sentado em silêncio, sem pensar, num grande bosque, sentindo-me integrado à natureza, às árvores, aos bichos, ao rio, fluindo, enquanto uma multidão começa a se aproximar, me olhando como se fosse um animal estranho, me cercando, quase me cheirando – e eu impassível, escutando o silêncio. Agora, estou no meio de um monte de gente se preparando para uma batalha, municiando suas armas. Do outro lado, pessoas iguais a elas, fazendo o mesmo com suas armas, recebendo ordens de uns animais peludos, sem cérebro, que falavam muito alto frases desconexas. De repente um homem enorme, com um pedaço de pau na mão, se aproxima de mim, pronto para bater com o pedaço de pau na minha cabeça. Não estou mais no bosque. Agora estou flutuando sobre um pedaço de terra destruído por anos e anos de uso irresponsável de venenos pelo homem. Mais do que flutuando: estou nadando no ar. Como um peixe no oceano. A terra grita e chora, como um homem à beira da morte. Agora estou parado num rio, que flui com força, cortando a terra, superando obstáculos. Estou sintonizado com o rio. Fluindo com ele, embora sempre no mesmo lugar. Achava que era um sonho. Mas essas coisas estavam acontecendo comigo. Abri os olhos, e do meu lado estava um ser que dizia estar ali para me mostrar o que eu estava fazendo com o único planeta onde a energia da vida surgiu em todo o universo, como uma explosão de eletricidade. E como eu havia me colocado à parte da vida, do equilíbrio, do êxtase. Para construir uma enorme ficção que se alimenta dela mesmo, até a destruição. Perguntas surgiam na minha cabeça, eu nem as formulava, mas ele respondia. Nesse blog, vou tentar ordenar da melhor forma possível tudo que ele me disse. Fique atento.

sexta-feira, 23 de março de 2007

O que é a globalização?

O que é a globalização? Para onde ela nos leva? O que foi globalizado? O que são países ricos e países pobres? O que eles buscam? A Índia, a China e o Brasil, os gigantes pobres que almejam ser ricos, para onde vão?

Primeiro, com a propriedade privada, veio a revolução agrícola. Depois, com a tecnologia, começou a revolução industrial. Agora, com a informática, começa a revolução da informação. Politicamente, as mudanças propiciaram uma nova revolução, que chamam de globalização. A revolução da informática, na verdade, apenas acelera a cultura da morte, globaliza essa cultura, explode o capitalismo, transforma o dinheiro numa jogatina desenfreada mundo afora, as notícias chegam a todos os lugares ao mesmo tempo, levando a cultura da morte. Os “progressos” na saúde se multiplicam. A agricultura se torna indústria.

A revolução agrícola começou com a propriedade privada, com as nações, com os senhores feudais, com reis e imperadores. E resistiu até o século XVII, mais ou menos, quando começou a se desenhar a revolução industrial, que ganhou mais força no século XIX, se consolidando no século XX – gerando migrações em massa do campo, criação das metrópoles e megalópoles, indústrias e poluição acentuada.

Até então, na revolução agrícola, Igreja e Estado se confundiam, e as pessoas que exerciam o poder, o faziam por direito divino. Quando as máquinas a vapor foram colocadas a serviço do homem, quando as primeiras fábricas surgiram, houve a separação de Igreja e Estado, e surgiu a chamada democracia – os poderosos escolhidos pelas pessoas, e não por direito divino. Foi quando houve a Reforma, de Lutero, que criou o protestantismo, uma “atualização” do catolicismo – colocada a serviço dos novos tempos e do capitalismo, dos negócios, do deus mercado. A partir da constatação da hipocrisia da Igreja, do dogma pelo dogma.

Veio a produção em massa, surgiu o consumismo, hoje uma religião, a educação em massa, dentro de preceitos definidos, e até uma História contada de acordo com esses preceitos, houve até mudanças familiares, com núcleos mais reduzidos, vivendo em função dessa cultura de massa.

Houve conflitos em toda parte entre a Igreja e os que baseavam seu poder na posse da terra, e os partidários da nova civilização, industrial. Capital, terra e mão-de-obra, além de conhecimento. Nos EUA, houve a secessão – a guerra civil entre o norte industrializado e o sul agrário. Para as fábricas, eram necessários cada vez mais produtos primários dos países periféricos, que estavam à margem da revolução industrial, e o conflito ampliou-se, tornou-se global.

Agora, os países que detém a informação transferem para os países que, antes, forneciam matérias-primas básicas suas indústrias poluentes, e ainda exploram os países que estão ainda distantes da revolução industrial, são ainda agrícolas. E globalizam a cultura da morte, o capitalismo, o “american way of life”, o esgotamento dos recursos naturais, seus produtos, o consumismo doentio. Com uma velocidade impressionante, no ritmo do computador.

Os EUA são os maiores produtores mundiais de alimentos, mas, hoje, o pessoal que trabalha no campo é muito menor do que anos atrás. Por quê? Porque a economia de escala chegou ao campo e o agro-negócio substituiu a agricultura familiar, os defensivos agrícolas permitiram a produção em massa.

O confronto está levando a uma luta pela hegemonia dos EUA, com o apoio de outros países do chamado Primeiro Mundo, que saíram á frente das novas tecnologias. Hegemonia que o leva a ignorar o Protocolo de Kyoto, com toda sua fraqueza. E que o leva a invadir países em busca de petróleo, hoje, e amanhã pode ser a água potável. A globalização do comércio e das finanças não respeita fronteiras. Aliás, fronteiras são mesmo ficções, mas a globalização acaba com as fronteiras de outro modo.

A Igreja sempre esteve ligada ao obscurantismo. Santo Agostinho dizia muitos séculos atrás que quem sabia somar e subtrair tinha pacto com o diabo.

Hoje acumulamos dados, informações, deduções e teorias com uma velocidade espantosa. Mas sempre com base na cultura da morte.

Tempo é dinheiro. Hoje, com a informática e os novos recursos tecnológicos o tempo fica mais curto, os produtos chegam aos mercados com mais rapidez, a produção em massa começa a ser superada, os produtos ficam cada dia menores, mais compactos, e os lucros aumentam. Também, por determinação do mercado, os produtos duram cada vez menos, para que possam ser substituídos. O conhecimento reduz a necessidade de tempo, espaço, matérias-primas, mão-de-obra, capital, tornando-se o maior recurso de uma economia. Mas, sempre, com base na cultura da morte.

A especulação, os ataques especulativos.

Não é preciso censurar, estabelecer mandamentos. Quem detém informação objetiva-positiva só é capaz de transmitir informação objetiva-positiva.

Nos séculos XIX e XX, a economia se baseava na terra, nas matérias-primas, na mão-de-obra intensiva e no capital, todos eles recursos finitos. Agora, em tese, a economia se baseia no conhecimento, que é um recurso inesgotável. Só que o conhecimento precisa ser objetivo-positivo, ou o que se multiplicará levará, inevitavelmente, à destruição do planeta.

O consumismo, que em tese impulsiona o crescimento das economias, é a doença do Terceiro Milênio. Para competir, a inovação é a chave. A cada mês, milhares de produtos novos chegam aos supermercados. A evolução é rápida.

As “estradas eletrônicas” interligam os sistemas, aumentam a velocidade da informação. As economias dependem, agora, da velocidade. A frase “tempo é dinheiro” agora chega aos micro-segundos.

Os negócios, agora, são feitos em tempo real. Um executivo do mercado financeiro disse que “o dinheiro move-se na velocidade da luz”. E a informação, completa, tem que mover-se ainda mais depressa.

O impasse dos socialistas (ou comunistas), de investirem nas fábricas, abandonando a agricultura, e controlando a informação. A utopia.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Quando nascemos

Quando nascemos, o nosso ser, que está no centro, no olho do furacão, começa a ser coberto do lixo dos condicionamentos. Ele está, coberto de lixo, quase soterrado, mas está lá. O lixo da História. O lixo da Humanidade por cima dele. A família, os professores, os sacerdotes, tentam nos transformar num robô genético, numa máquina obediente a leis e mandamentos, mas o nosso ser está lá, no centro. Imutável. Silencioso. Os alimentos que nos obrigam a ingerir, os hábitos que nos transferem, mudam a dinâmica do nosso corpo, nos tiram do centro orgânico, quebram nossa unidade com o todo, interferem até no mais sutil, desencadeando o mecanismo do pensamento incessante, do diálogo interno acelerado, quase desembestado, mas há uma testemunha que continua lá, no centro, a tudo observando. Imutável. Como estamos em eterna mutação, como a vibração eletrônica não cessa, estamos num processo incessante de metamorfose, permanentemente em transformação. Nascemos, damos os primeiros passos, aprendemos a linguagem, crescemos, ficamos jovens, envelhecemos, e o ser lá no centro permanece o mesmo, a tudo assistindo. Os condicionamentos – nacionalidade, posição dos astros, época da História, religião, mandamentos, cultura, grau de instrução, profissão, família, rede social etc. – nos moldam, criam em cada um de nós uma personalidade, um ego, uma armadura para a sobrevivência, estratégias, um caráter, uma esperteza, uma malícia. Mas, imutável, nosso ser continua lá, no centro, a tudo observando. Quando falamos ao ser, não estamos nos dirigindo ao ego. Mas se, ao falarmos com o ser, é o ego que ouve, o ego que assimila, não há comunicação. Há ruído. Quando estamos apenas preparando alguém para o crescimento, essa pessoa às vezes entende aquele processo como uma submissão ao ego. Aí, o eixo é quebrado. Não há mais comunicação. Não há mais transmissão. O ser continua lá. No centro, a tudo observando. Mas o ego interfere e não deixa que haja comunicação. As palavras e as ações perdem totalmente o sentido. Línguas diferentes deixem de se comunicar. O ser continua lá, no centro, pronto. Mas o ego interfere e não permite o grande encontro. O material se sobrepõe ao imaterial. A esperteza se sobrepõe à sabedoria. O ruído se sobrepõe ao silêncio. Não há mais comunicação. Definitivamente. O elo se rompe. O passado e o futuro voltam a se impor ao eterno presente. O tempo se sobrepõe ao eterno. O jeito que você usa para pedir as coisas não passa disso – o jeito que você usou. Mas você receberia de qualquer maneira, não conspurque porque você pediu de um certo jeito. Não fique escravo desta maneira de pedir. Liberte-se disso.

quarta-feira, 21 de março de 2007

A tese básica

Tudo na natureza tem um programa, um software, de acordo com sua eletricidade, sua energia. Os vegetais (segundo estágio da matéria) se alimentam dos minerais (primeiro estágio da matéria). Os animais menos grosseiros (não-carnívoros), terceiro estágio da matéria, se alimentam dos minerais e vegetais. Os animais menos sofisticados (carnívoros) se alimentam dos animais, vegetais e minerais. Mas têm uma fisiologia totalmente diferente do homem. Não têm o intestino delgado. Têm dentes mais apropriados para mastigar a carne e PH da saliva diferente. Têm elementos químicos no estômago apropriados para transformar a carne em líquido, já que eles não mastigam o que comem. E comem a carne viva, sangrenta, não cozinham a carne para disfarçar o gosto, não a condimentam.

Não existe violência quando um animal devora o outro. É um balé. O bailado da vida. A energia de um é absorvida pela energia do outro. Não existe morte. É vida dando mais vida. Mas existe violência quando o homem mata outros animais para se divertir. Por esporte. Ou quando um homem mata outro homem (o homem é o único animal que mata os de sua própria espécie, e que mata por matar, não para se alimentar).

Os animais são diferentes entre si na forma de se alimentarem, por causa da energia de cada um: omnívoros, carnívoros, frugívoros e hortofrugívoros. O que caracteriza o animal é a proteína, formada pelos aminoácidos, que são encontrados nos vegetais, por isso cada espécie se alimenta do que lhe proporciona os aminoácidos necessários para formar a proteína de sua espécie, seu DNA.

Por isso a vaca come só grama, mas tem uma enorme reserva de proteínas, pois na grama se encontram os aminoácidos (mais oxigênio e nitrogênio) de que ela necessita.

O homem, como é mais sofisticado, busca os aminoácidos que precisa em uma diversidade bem maior de vegetais, talos, sementes, folhas, flores, legumes, raízes, cereais - onde encontra as vitaminas, as gorduras, os oligoelementos e sais minerais, e os aminoácidos.

E impossível você separar o homem, os animais, os vegetais e minerais da natureza, é um todo orgânico, não dá para separar as partes do todo. De acordo com sua vibração eletrônica, cada elemento da natureza deve obedecer determinadas leis, imutáveis e eternas. O equilíbrio do todo é o equilíbrio entre as partes. Quando os animais seguem o programa da natureza, não desvirtuam nem transgridem as leis biológicas, eles são naturalmente felizes, extáticos, meditativos e silenciosos, sem ego, integrados com a natureza, o todo, não violentos, equilibrados e sem doenças, incapazes de destruir, sem precisar de bíblias, mandamentos, leis, polícia, códigos de ética.

A origem das doenças

A partir do momento que o homem desrespeitou as leis biológicas, passando a se alimentar de qualquer coisa, imitando outros animais, teve uma surpresa: o aparecimento do que se convencionou chamar de doença. A doença não é natural no homem, assim como não é natural em nenhum animal. É o resultado da violação das leis biológicas.

As chamadas doenças são sinais, sintomas de desequilíbrio funcional do organismo, provocadas por uma alimentação inadequada, e por uma herança genética cada vez mais carregada desse desequilíbrio. Se o equilíbrio é restabelecido através da desintoxicação (para jogar fora o lixo acumulado) e da mudança alimentar (para deixar de introduzir a causa do desequilíbrio, voltando a respeitar as leis biológicas), os sintomas desaparecem, as doenças deixam de existir. E não se pode dizer que houve cura, porque ninguém cura ninguém, nada cura nada.

A saúde não é nem pode ser resultado de ações externas, de medicamentos que matam os microorganismos, que existem em equilíbrio no organismo animal, desde que haja equilíbrio funcional, crescendo descontroladamente quando existe clima propício, gerado pelo desequilíbrio, como conseqüência, não como causa das chamadas doenças. Ou que impedem que o organismo se limpe através das crises depurativas, que os medicamentos tratam de bloquear, como as gripes.


O que levou à ruptura?

O que levou o homem a essa ruptura? Alguma ocorrência climática que dizimou as espécies vegetais por algum tempo, levando o homem, por uma questão de sobrevivência, a ir atrás de se alimentar de qualquer coisa, imitando outros animais, e se perdeu, não soube voltar para sua essência. A Terra é um paraíso, o homem não tinha necessidade de nada, tudo estava disponível, o êxtase era o estado natural do homem.

O homem se lançou, então, numa guerra de conquista, de conquistar o que já era seu por direito, e de criar ficções (objetivos fictícios). E foi criando essas doenças – passando primeiro a trocar, depois a comprar (tendo que inventar o dinheiro, porque tinha colocado valor nas coisas que recebeu de graça), e a ambicionar mais, e cada vez mais. E deu no que deu.

A ambição e a desordem celular ao se introduzir o DNA de outra espécie no organismo humano criaram o câncer, quando a célula que deixa de se reproduzir mitosicamente. O câncer é a desordem celular. Mitosicamente, naturalmente, as células são fenômenos eletrônicos, concentrado no que é conhecido como mito. Os mitos se encontram, de uma célula para outra, e através da mitose se reproduzem em perfeição.

Quando se introduz outra vibração eletrônica, um DNA estranho, de uma vaca, por exemplo, a mitose não acontece – a reprodução é irregular, imperfeita. Cancerígena. Por isso não se encontra a “cura” do câncer – porque ela simboliza a ignorância do homem, que estuda doenças, sintomas, e não saúde, indo às causas. Não existe efeito sem causa. E quem procura onde não há, não encontra. Como diziam os sábios chineses, uma caminhada começa com o primeiro passo. Se o primeiro passo é errado, todos os passos seguintes serão errados, porque o rumo está errado.

O pecado capital

A desconexão do todo, a violação das leis biológicas e o rompimento do equilíbrio natural levam à doença. Homens doentes criam uma cultura doente, uma família doente, uma sociedade doente, uma civilização doente, uma Humanidade doente. Violando seu microcosmo, seu corpo, que é igual ao macrocosmo, porque o que está dentro é igual ao que está fora, o que está em cima é igual ao que está embaixo, a vida é pura dialética, e quebrando as leis biológicas, o homem passou a reproduzir externamente o que fez internamente, em seu próprio corpo - passou a querer dominar a natureza, como se não fizesse parte dela. Passou a querer conquistá-la.

Esse é o pecado capital do homem, a violação das leis biológicas, o apartar-se da natureza e que gerou tantos outros pecados e essa história de horrores que é a nossa civilização.

Homens doentes só são capazes de reproduzir as doenças (e não de transmiti-las, como dizem os mitos da nossa civilização). O que se transmite é a cultura doente criada pelo homem doente. Mesmo o conceito de Humanidade é um conceito doente, pois na verdade a humanidade não existe, o que existe são os indivíduos. A doença básica do homem gerou a multidão, onde as responsabilidades são diluídas. Gerou as nações. Gerou as religiões. Gerou a busca do elo perdido, através do chamado espiritualismo.

Há vários nomes para essas doenças, da mesma forma que as diversas manifestações de desequilíbrio no microcosmo que é o corpo humano recebem nomes diversos, de acordo com o órgão onde se dá a manifestação do desequilíbrio. Nesse feixe de energia no qual nós vivemos - o nosso veículo, chamado corpo -, as doenças recebem diversos nomes de acordo com o sintoma, os sinais que emite.

Igualmente, as formas exteriores dessa doença recebem nomes diferentes: tempo, morte, Deus, desejo, propriedade privada, conquistas e guerras, dominação, poder, destruição, dinheiro, ambição, inveja, cobiça, crimes, racismo, superpopulação, consumismo, medicinas, violação da natureza, poluição, destruição dos rios, esgoto, lixo, esgotamento dos recursos naturais.

As doenças básicas do homem

Propriedade privada - A partir do momento que, desconectado da natureza, o primeiro homem cercou o primeiro pedaço de terra que ele recebeu de graça e do qual ele é parte, inventando a propriedade privada, essa doença gerou diversas outras. Como o homem passou a ser dono de alguma coisa, um pedaço de terra, e a casa que erigiu nesse pedaço de terra, criou a doença chamada família – porque, como era “dono”, alguém de seu sangue tinha que herdar sua “propriedade”, e assim nasceu a família, a “base de tudo”, de acordo com o que hoje conhecemos como Igreja. A base, sim, de doenças civilizatórias. Porque é na família que começou a ser gerada essa cultura de morte na qual vivemos. É na família que começaram os condicionamentos.

Como as pessoas eram donas de pedaços de terra, inventaram também a ambição. O desejo de querer sempre mais, de acumular. E a ambição gerou primeiro os feudos, depois as nações, em seguida mos impérios e reinos. E vieram as guerras de conquistas, as invasões, a destruição de civilizações inteiras, como os maias e astecas, por povos mais “civilizados” – na verdade, mais “doentes”. Que impunham suas doenças aos outros. O homem passou a viver de mitos, desde quando se desconectou do todo.

Progresso e crescimento - Depois da propriedade privada, do advento das nações, veio a noção da necessidade do progresso e do crescimento. Que, hoje, chega ao seu limite, com o esgotamento crescente dos recursos naturais. Nada contra o progresso. Mas o progresso real. O homem pensa, e pensa sobre o que pensa, é o maior refinamento dentro do que conhecemos como natureza. Mas crescer sem destruir, sem conquistar o que já é seu, sem criar as doenças, e sem, a partir da doença, crescer no rumo da destruição do todo, porque o homem se apartou dele, deixou de ser uma um unidade com ele, e por isso deixou de ser responsável por ele. E, conseq üentemente, por sua própria sobrevivência, porque não deixou de ser parte do todo, só porque deixou de perceber que é.

Tempo - O tempo não existe de fato, o que existe é a rotação da terra em torno do sol, que cria a ilusão do tempo, porque escurece num determinado lugar quando o sol está distante, fazendo-se a noite, e fica claro em outro determinado lugar, onde o sol está mais próximo, fazendo-se o dia, o que cria a ilusão de que o tempo passa. Para quem vive o momento, e para as pessoas que não estão doentes o tempo não existe, de fato, somente o, momento, o agora. E só existe um lugar, o aqui.

O homem doente criou o tempo e deixou de viver o momento, deixou de viver conectado à natureza, um com ela – o presente que nós recebemos é o eterno presente. Que o homem ganhou de graça e dele abriu mão, em nome da doença. Para os animais, as plantas, os minerais, a natureza enfim, não existe tempo, existem ciclos vibratórios e energia em transformação. Tudo muda. Somos uma metamorfose ambulante, como dizia Raul Seixas.

Morte - A morte também não existe. É uma conseqüência da invenção do tempo. O que existe é energia em transformação. A energia não morre, ela apenas se transforma. O que chamamos de morte é uma transição energética. A conclusão de um ciclo vibratório que deveria ser perfeito. Como os elefantes, que sentem o fim do ciclo e se dirigem a um local onde deitam e se fundem com a terra. E que os homens, idiotas, chamam de “cemitério de elefantes”.

Alimentação protéica - Outro mito é a chamada alimentação protéica. A noção de que o homem precisa se alimentar de proteínas. Ele não precisa se alimentar de proteínas. Como os outros animais, ele precisa produzir as proteínas em seu próprio organismo, através da absorção dos aminoácidos necessários, e do hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. A introdução de proteínas de outros animais no organismo humano provoca a desordem celular chamada câncer. Quem se alimenta de animais é cancerígeno. Porque no DNA de outro bicho, a vibração eletrônica de outra espécie, confunde a ordem celular, e desencadeia um processo de desdobramento não uniforme. Que os médicos chamam de câncer. Ao se desapartar da natureza, o homem perdeu o instinto. Os animais sabem instintivamente do que devem se alimentar. Quando devem trepar. O homem matou o instinto.

Medo - Com o tempo e a morte surgiram, em conseqüência, outras invenções diabólicas, como o medo, porque se existem o tempo e a morte, passou a existir a insegurança. E a insegurança se desdobrou em medo. Na necessidade de segurança. Quando a vida é, por definição, insegurança.

Deus - Porque se o homem se desconectou da energia que está em tudo e em todos, deixando de ser um com a natureza, deu um nome ou vários nomes para essa energia, criando os deuses – um panteão de deuses. Mais tarde, pessoas espertas, para explorar a ignorância da maioria, das multidões, sintetizaram o panteão dos deuses num só deus, criando o monoteísmo. E para impor o monoteísmo às civilizações que cultuavam diversos deuses, fez as cruzadas, as guerras religiosas, fez a Inquisição, onde os bruxos, que desrespeitavam o poder do monoteísmo, eram queimados na fogueira. Para que todos engolissem a existência do deus que parece um voyeur que tudo vê, tudo ouve, tudo acompanha, tudo julga, criando a culpa, inventaram o céu e o inferno. Para que as pessoas aceitassem esse dogma, criaram a fé, que nada mais é que a aceitação da ignorância, sem análises. A fé faz o homem aceitar os dogmas sem discussões. Embrutecendo o homem, sufocando sua inteligência.

Falso conhecimento e falsas ciências - O homem desconectado quer conhecer, por isso procura, mas nem sabe o que está procurando. Mas o que ele precisa é se reconectar – o resto é como a peruca do careca - são ilusões de quem perdeu o rumo. O homem fica procurando ficções como Dom Quixote combatendo moinhos.

Doenças, medicinas e curas - Olhando a doença, que ele mesmo inventou ao gerar o desequilíbrio funcional pela alimentação inadequada, o homem não entendeu nada, e passou a buscar a eliminação do que chamou de doenças. E inventou as medicinas, o curandeirismo, buscando “curar” as doenças. Mas doenças nbão se curam. São sintomas. Sintomas se eliminam, pela simples restauração do equilíbrio funcional, o que não se obtém com agentes externos, pura e simplesmente voltando a respeitar as leis biológicas, e eliminando os detritos que o organismo acumulou com anos e anos de transgressões às leis naturais.

Dinheiro - Como o homem passou a ser dono de coisas, como o homem passou a se alimentar contra a sua natureza intrínseca, criando as doenças, não tinha mais tudo à sua disposição, como os outros animais. Passou a trocar, primeiro com o escambo, e a comprar, depois, quando inventou o dinheiro. Comprar alimentos. Comprar propriedades. Comprar saúde. Comprar pessoas. Comprar a morte. Acumular. Hoje, estamos no ápice desse processo, no qual o capitalismo foi globalizado, onde o dinheiro é virtual, navega pela Internet, quebra países e empresas por pura especulação, que é um jogo de perde e ganha interminável.

Nações - Depois da propriedade privada, o homem inventou as nações, inventando também as fronteiras. Quem vê de cima não enxerga as assim chamadas fronteiras, que são traços, riscos de giz na terra. As fronteiras não existem. E as nações não existem. São ficções. Mas as pessoas nascem dentro de nações, e as nações determinam sua cultura, determinam se a pessoa é rica ou pobre, poderosa ou fraca. O indivíduo existe. As nações são ficções.

Poder - Destituído do poder que lhe é inerente, o poder de ser feliz, e capaz de ser dono de coisas, vivendo em nações, em sociedade, o homem inventou o poder, e faz tudo em nome do poder. E a verdade é que só os mais fracos é que buscam o poder. Quem conhece seu verdadeiro poder não busca fora o poder que já detém.

Crimes - Os crimes são doenças sociais. Com a propriedade privada, o dinheiro, a dominação, as guerras de conquistas, a superpopulação, uns têm mais, outros têm menos. Uns fazem regime, outros passam fome. A comida não dá para todos. Mas os desejos – necessários para garantir o crescimento através do consumismo – são insuflados, são incentivados, são vendidos mesmo para quem não tem como comprar os objetos do desejo. E a quem não tem acesso aos objetos do desejo, só resta um caminho: tomar o poder pelas armas. Tirar de quem tem o que ele foi levado a ambicionar. Em si, não há diferença entre pessoas que são consideradas criminosas e pessoas que exercem o poder, mandam matar, decidem o futuro de outras pessoas. São iguais. Assim como não há diferença básica entre as chamadas drogas (ilegais) e as drogas legais, que somos forçados pela publicidade a consumir (medicamentos, bebidas alcoólicas, bebidas químicas, cigarros, charutos e cachimbos etc.).

Desejo - Em função dessa perda, dessa opção pelo desequilíbrio através de uma alimentação inadequada, o homem inventou o desejo. E o desejo o move, alimentando a ficção na qual o homem vive. Não desejar é a maior transgressão.

Ego - O desejo criou o ego, outra doença grave do homem. Uma personalidade, que vem de persona, máscara, para garantir a sobrevivência na família doente, na sociedade doente, na civilização doente. O ego sufoca o ser real.

Sexo e superpopulação - Ao abandonar o instinto, o homem também transformou o sexo. E criou a superpopulação. Que sufoca o planeta. Esgota seus recursos naturais. O homem é o único animal que trepa. E que procria além dos limites do equilíbrio, uma marca da natureza. Até porque livrou-se dos predadores naturais.

Multidão - Outra doença é a multidão. O homem, que sacrificou sua individualidade quando se desconectou do todo, deixando de viver o momento por causa da doença chamada tempo, se dissolveu na multidão, porque a multidão não tem responsabilidade, não precisa pensar, não precisa decidir, não precisa escolher. As multidões são levadas, como bois para o matadouro. Ao homem na multidão, tudo acontece.

A busca do prazer - Outra doença gerada a partir do pecado capital cometido pelo homem: a busca do prazer, porque o homem sacrificou o êxtase no altar do desejo. Desapartado do êxtase, o homem busca o prazer do lado de fora, quando o prazer é natural no homem. É seu instinto.

A verdade - Outra doença básica é a busca da verdade do lado de fora, no exterior, quando ela está no interior, dentro de cada um. Certas pessoas têm insights da verdade, uma visão parcial dela. São as pessoas limítrofes, os loucos, os artistas, os assim chamados místicos. Mas todos pensam sobre a verdade, buscam a verdade, mas não a reconhecem em seu interior por causa da doença básica do homem, e porque não enxerga o óbvio, o que está na cara. Se a verdade o cutucar, o homem a repele, porque está tomado pelos desejos, pelos pensamentos descontrolados, pelo diálogo interno incessante e entediante.

A velocidade da transformação

Hoje nós chegamos a uma situação onde a globalização e a revolução tecnológica aumentaram a velocidade da transmissão da ignorância de forma dramática – o que está levando ao impasse total, apressando o grande impasse civilizatório. O tudo ou nada inevitável.

A nova tecnologia e a globalização levaram a um mundo plano, como disse o jornalista Thomas Friedman. Temos que chegar ao fim da história, não o fim da história visualizado por um outro economista americano, porque o capitalismo se tornou dominante com o fim do socialismo, o fim do império soviético, mas porque temos que acabar com as ilusões, deixar de viver uma longa e entediante ficção. Com o chamado “fim da história” visualizada nos Estados Unidos, a única coisa que aconteceu foi que chegamos muito rapidamente ao ponto do não retorno.

O universo não resistirá ao crescimento da Índia e da China, se continuar nesse ritmo, ingressando na aldeia globalizada, buscando mercados e se abrindo a eles, aderindo à febre consumista que sustenta esse crescimento. Imagine mais milhares de pessoas comprando carros? Ou ampliando o mercado de quinquilharias inúteis, que aumentam o PIB, o crescimento, mas destroem o planeta? China e Índia destruindo ainda mais seus rios, desertificando a terra por enchê-la de venenos? Se metade do mundo consumisse no ritmo dos norte-americanos, o planeta já teria explodido. E é para isso que estamos caminhando, porque Índia e China, sozinhos, representam mais da metade da população mundial. Na índia, menos de 10% de sua população têm espaço no mercado de consumo, mas só com isso a Índia já é, hoje, o maior mercado consumidor do mundo, em quantidade – embora ainda não em valores.

Mas a história é que tem que acabar, por ser uma longa bobagem, uma ficção do homem perseguindo o Santo Graal. O homem tem que desinventar o tempo, a morte, o desejo, o poder, e acabar com as multidões em função do indivíduo.

terça-feira, 20 de março de 2007

Indo além do chamado do beija-flor

Desde que o homem-mulher se desconectou da natureza, passando a se alimentar de qualquer coisa, sofreu um curto-circuito que o levou à busca de ser o que não é, porque havia rompido com o ser real. E inventou a doença. Doente, como nenhum outro bicho fica desde que siga a programação da natureza, perdeu os instintos e passou a uma busca frenética por dominar a natureza, por desenvolver-se, por “entender” o mundo e a si mesmo. Único bicho capaz de pensar - a ter, em tese, o que se chama de livre arbítrio -, inventou o tempo, inventou a morte e começou o que chamou de história.

Da mesma forma que, no seu próprio corpo, poluía seus rios, destruía sua fauna e sua flora, assim passou a agir do lado de fora, sem perceber, porque sufocou seus instintos, que é apenas uma parte de tudo que existe, e de que tudo que existe é parte dele. De que tudo que existe faz parte de uma grande unidade.

Aí, inventou os deuses para substituir essa conexão que ele mesmo destruiu. E sintetizou os deuses em um só deus para facilitar a dominação de uns pelos outros. E cercou a terra e declarou que ela pertencia ao mais forte, inventando a propriedade privada. E depois inventou os países, as nações. E também inventou as guerras, porque, se as terras pertenciam a pessoas, a países, a nações, cabia tomá-las para expandir-se, para acumular mais terras. Aí, inventou o dinheiro e colocou valor nas coisas que foram dadas a ele de graça. E inventou o comércio.

E como sofria com os sintomas que afetavam sua saúde, que prejudicavam seu rendimento como soldado, como comerciante ou como “cidadão” - então apareceram os médicos que tratavam de “curar” os sintomas, sufocá-los com produtos químicos. E foram surgindo os “especialistas”. E o homem traçou um círculo em torno de si mesmo, destruindo todo o seu potencial. E passou a viver dentro do círculo, segundo regras que foi estabelecendo e modificando de acordo com o que os objetivos do que chamou de civilização e desenvolvimento. Objetivos contra a vida.

Passou a viver uma vida paralela que destrói a vida. Que criou as instituições que não permitem que se escape do círculo – as escolas, as igrejas, os governos, os hospitais, a polícia, a família. Uma vida ilusória, onde todos e cada um perseguem o santo graal enquanto se afastam de sua essência, transformados em humanóides que caminham para a destruição como bois para o matadouro. Que se multiplicam como coelhos mundo afora, criando a superpopulação que esgota os recursos naturais.

Depois dessa ruptura, cada pessoa já nasce com uma nacionalidade, com uma religião e com regras morais coerentes com a nacionalidade e a religião. E comprometida com o tempo, é claro, porque essas regras são mutáveis, vão “evoluindo”. Chamam isso de evolução. E, como o homem se afasta cada vez mais de sua essência, já não é capaz de saborear a vida, não enxerga o êxtase de simplesmente existir e se entrega a essa vida paralela, complexa, correndo atrás de poder, dinheiro, patriotismo, sucesso, fama, desenvolvimento, cura. Cada vez mais distante da essência e da simplicidade, que já nem enxerga. O que chamam deus é a saudade da originalidade perdida.

Mas o fato é que alguns primeiro enxergam o círculo e entendem que ele é uma prisão. E, porque entenderam que estão numa prisão começam a tentar escapar dela. E alguns poucos conseguem. E, quando conseguem escapar, passam a enxergar as coisas de forma cada vez mais clara. E quem enxerga a realidade como ela é assume também uma enorme responsabilidade. Só quem enxerga a realidade como ela é assume essa responsabilidade, de viver de acordo com o seu ser, com a natureza e de ser uma unidade com tudo e todos. Pessoas que assumem essa responsabilidade passam a ter relações frescas com as pessoas: renovadas a cada momento. Sem a memória psicológica. Sem nada nos escaninhos.

E quem assume essa responsabilidade não pode se colocar do ponto de vista de quem está dentro do círculo. Tem que se colocar do ponto de vista de quem está fora do círculo da assim chamada vida, enxergando as coisas como elas são de fato, abandonando a descrição que nos fazem do mundo, ou não se conformando mais com ela. E mergulha na inteligência infinita, que começa quando a pessoa se coloca como testemunha dos pensamentos. Saber o que pensa. Saber como pensa. Saber de onde vem o pensamento. Ser observador desse processo. Se apartar. E, de fora, enxergar o real. Inteligência infinita que nos pertence desde sempre, e só a cada um.

Temos que entender como funciona este jogo: uma situação nos leva a buscar nos arquivos da memória uma reação. Mas não fomos nós que montamos os arquivos. Foram os pais, os padres, os médicos, os professores, a cultura, o conhecimento, gente que ficou na poeira da história. Não é o caso de rearrumar os arquivos, selecionar algumas idéias-força para deixar no arquivo, outras para tirar dele. O arquivo em si é o problema. Somos levados pelos pensamentos, pelos desejos, pelos condicionamentos, pela nossa cultura, pelo que nos introjetaram, pelo que nos introjetam a cada instante. A mente nos monta uma armadilha a cada instante. Nós estamos na rua, vemos um outdoor, nosso pensamento nos transporta a um desejo. Vemos a TV, a mesma coisa. É assim que funciona. Um jogo.

Por isso as duas coisas são importantes: recobrar o equilíbrio, se re-colocar em contato com a natureza e jogar o lixo fora, entender o mecanismo do pensamento, transformar o pensamento em servo, não deixar que ele seja o senhor - e, o que é pior, um senhor que não sabe de onde vem ou para onde vai. Um senhor desgovernado. Atenção. Estar atento. Viver cada momento. Homo sapiens sapiens. Que não é conduzido pelos pensamentos. Que não é escravo da cultura, dos vícios, dos condicionamentos, da história, da humanidade, das ideologias, dos dogmas, das religiões, da civilização, do conhecimento formal que diz respeito a uma civilização doente criada por homens doentes que se apartaram da natureza como se fosse possível a perna decidir ser independente do resto do corpo. Assumir o comando. Afastar as nuvens do pensamento e do diálogo interno interminável. E enxergar, pela primeira vez.

Todos nós somos “buscadores”, mas procuramos, às vezes, de uma forma confusa, apenas transgredindo. Ou temos “insights”, depois recaímos. Ou vamos e voltamos. Porque somos uma multidão, e nada que vem do diálogo interno permanece. Porque o “eu” que tomou uma decisão hoje, não é mesmo “eu” que desrespeita a decisão amanhã.

Por isso sou adepto da chamada Naturologia, para me manter numa caminhada que nunca acaba, mas também não cansa. Quem anda só com os pés não se cansa. Porque é a cortina de fumaça criada na cabeça, com os desejos, objetivos, metas, que nos impede de enxergar. Entre nós e a realidade está a cortina de fumaça do círculo da “civilização” nascida da doença básica do homem, do seu pecado capital: a desconexão da natureza a partir da decisão de comer qualquer coisa, desprezando o instinto, desrespeitando as leis biológicas. O que levou à doença. E ao resto, como conseqüência. E homens doentes só são capazes de criar relações doentes, uma civilização doente, sociedades doentes.

Com a Naturologia começamos a enxergar o círculo da civilização doente que o homem-mulher foi capaz de criar. Mas não é possível mudar as pessoas de dentro do círculo. Porque não é possível, dentro dele, que as pessoas enxerguem o real. As nuvens de pensamentos não deixam. Os vícios não deixam. Os condicionamentos não permitem. Não podemos continuar presos no trânsito da humanidade – por sinal, cada vez mais “engarrafado”. Não podemos mais nos preocupar com nações, ancestrais, ideologias, religiões.

Nada disso existe, de fato. O que existe é o indivíduo conectado com essa energia que está em tudo e está em todos. Mais do que conectado: imerso nela. Lutar contra o que não existe é fazer parte do jogo. Aquele que acredita em deus e aquele que acredita que não acredita em deus dividem a mesma energia, em pólos opostos.

Devemos nos colocar totalmente fora do círculo. Não pensar descontroladamente e viver totalmente o aqui e agora. Evitar ficar “ocupado”. Estar em cada momento, sem passado e sem futuro, e não tropeçar em distrações. Saltar no abismo – o abismo da eternidade.

A mudança, através da Naturologia, é dolorosa. Por causa dos vícios. Dos condicionamentos. Da história pessoal de cada um. Dos pensamentos. Que não são nossos, são emprestados, são frutos de todos os vícios, todos os condicionamentos, de toda a história da assim chamada humanidade. Se estivermos atentos, é fácil ouvir, por trás dos pensamentos, a voz dos donos dos pensamentos que afloram na mente, desordenadamente.

Não basta, no entanto, equilibrar o organismo, é preciso limpar a mente através do silêncio. Assim funciona a Naturologia: não basta eliminar a causa, que são os hábitos errados, a alimentação inadequada, é preciso desintoxicar o organismo, limpá-lo do que ele acumulou através de anos e anos de ignorância. Da mesma forma, temos que proceder com a mente, com a cultura, com a civilização – limpar o lixo acumulado. Entender o mecanismo da mente. Jogar o lixo fora. Não acumular mais lixo. Porque não existe efeito sem causa.

Não participar mais do trânsito da humanidade. Olhar de fora. E ao mesmo tempo estar dentro. Estar no mundo. Mas não ser mais do mundo. Deste mundo. Ser do mundo que deveria existir se o homem não tivesse rompido com a natureza, com seu próprio ser, um mundo sem história, mas com êxtase. Controlar a loucura para poder participar deste mundo. Mas sem se identificar com ele. Sem ilusões. Não dedicar nada a ninguém. Fazer as coisas sem buscar metas.

O que fazer agora? “Consertar” o mundo de dentro é impossível. Mas podemos mudar pessoas. De fora. Dentro, mas fora. Cada indivíduo é um exército. O que nos resta fazer agora é mudar pessoas, desintoxicá-las da civilização, torná-las equilibradas. E, ao mesmo tempo, torná-las meditativas, silenciosas, atentas ao momento, a cada momento, capazes de ser homo sapiens sapiens. De conhecer a inteligência infinita. Ou a intuição. Os nomes não interessam. Não interessam as denominações, se são apenas formas de olhar o mesmo céu, mas de janelas diferentes.

Todas as pessoas, e são poucas, que foram capazes de enxergar o real na sua crueza e simplicidade, disseram a mesma coisa. Perceberam a mesma coisa. Viveram a mesma experiência. E foram destruídas ou tiveram suas palavras diluídas pelas pessoas sabidas que não conseguem enxergar, apenas ver. Que não conseguem escutar, apenas ouvir. Vêem e ouvem através de sua cultura, de seus vícios, de seus condicionamentos, de seus dogmas, das lentes escuras de seus óculos. De sua ignorância travestida de conhecimento.

E quanto mais cultas, mais poderosas, mais sabidas, quanto mais diplomas, quanto mais “poder”, maior a ignorância, porque a casca é mais dura, a couraça é mais resistente. Como dizia o poeta, há muito sabido pra pouco sabiá, sábio pássaro colorido.

O elo que faltava para seguirmos adiante era o conhecimento da Naturologia. Porque em equilíbrio as pessoas são meditativas de ouvido, não precisam “aprender” a ser. Em equilíbrio, os pensamentos não vêm e vão descontroladamente, “puxados” pelos condicionamentos, pela história, pela descrição do mundo que nos contaram, pelos desejos “implantados” em todos e em cada um por uma sociedade doente, desde muito antes de todos os cristos, ou desde quando o homem-mulher decidiu deixar o Jardim do Éden e provar do fruto da árvore do conhecimento, ou da árvore da ignorância metida a sabida.

Deixando de ser deus, deixando de ser parte da natureza, um com ela, um com o todo, o homem-mulher criou muitos deuses, e depois unificou todos os deuses num só para poder dominar com mais facilidade a multidão. O homem-mulher deixou de ser um e virou - ele mesmo - uma multidão. E que sofre influência dos astros, da família, da sociedade, dos poderosos de plantão e dos pequenos e grandes tiranos. E o pior é que não há luz no fim do túnel. Simplesmente porque não existe túnel. O túnel é imaginário. É uma viagem sem fim e sem volta. É só entender que não existe o túnel. E enxergar o real. Chega de ilusões!

O que percebemos é que há uma diferença básica entre aqueles que corporificam os dogmas, que se dizem religiosos, e aqueles que buscam sair do círculo, se apartar da multidão, viver longe dos ditames desta civilização doente que está conduzindo o planeta à destruição. Estas pessoas, os ”buscadores”, enxergam o que as pessoas chamam de “realidade” de fora, como testemunhas. Enxergam a multidão indo para o matadouro como uma boiada e se sentem solitários - como se estivessem no cume de uma montanha assistindo a banda do mundo passar.

O que buscam é o ser que foi abandonado pelo caminho, sufocado pelo ego criado pela doença básica do homem. O elo que faltava, repetimos, é a Naturologia. Instintivamente, essas pessoas tendem a ser vegetarianas. Muitas vezes por humanismo, porque não querem matar animais. Mas os animais que são mortos pelos verdadeiros carnívoros continuam vivos neles, energeticamente falando. Não há violência nisso – como nós entendemos a violência. O lobo adora o cordeiro, acha ele lindo, com aqueles cabelos naturalmente encaracolados, mas quando está com fome, come o cordeiro por instinto. Sem violência. Apenas come. Mas o homem-mulher, sim, é violento quando mata os animais – só por prazer, ou para congelá-los e comer depois, cozidos ou assados, com muito molho para disfarçar o gosto insuportável – para ele(a), que não é carnívoro por instinto - da carne crua e sangrenta.

O que precisamos é chamar estas pessoas para se re-ligarem com o corpo, com a matéria, com o equilíbrio que as remete de uma só vez para a meditação, para a compreensão do real. E o caminho é fundir a Naturologia com a meditação. Meditação como estratégia, porque o objetivo comum é abandonar passado e futuro e viver o momento. Temos que nos aprofundar na Naturologia, que nos leva ao estado meditativo, ao equilíbrio e à maior de todas as transgressões, porque num mundo globalizado e imbecilizado, que caminha para a autodestruição, não há nada mais transgressor do que a saúde, do que se reconectar com o todo.

Mas temos que buscar quem, mesmo sem compreender profundamente o pecado capital do homem-mulher, o de se apartar da natureza para se alimentar de qualquer coisa, alterando o equilíbrio funcional do organismo, conseqüentemente passando a desejar ser alguma outra coisa, e não o que era e é, e sem perceber que somos o que somos, e não podemos ser nada mais do que somos, e que o que somos já é perfeito em si, ser um grão no universo já é o bastante, mesmo assim empreendeu uma jornada para cair fora do círculo, de samsara, da ilusão que o homem-mulher criou, ou maya, superando os deuses para voltar a ser um com a natureza.

Temos que partir destas pessoas para chegar à síntese brutal da síntese, à simplicidade, ao óbvio tão difícil de enxergar. De transformar quantidade em qualidade. E qualidade de novo em quantidade. Como vive hoje, o homem-mulher não é mais do que uma máquina, um robô genético que age de acordo com seus condicionamentos, com o que lhe ensinaram. Que dá ordens a si mesmo – ordens que se baseiam na sua cultura, na sua religião, nos seus relacionamentos, no que lhe ditaram desde a infância. Ordens contraditórias. Ordens que, por sua vez, lhe são transmitidas numa cadeia sem fim. E mórbida.

Os melhores transgridem, como Osho, ou como Melara. São limítrofes. Buscam ultrapassar os limites da chamada normalidade. Alguns não sobrevivem. Não suportam. Suicidam-se ou vão parar nos hospícios. Ou mergulham nas drogas chamadas “ilegais” – embora tudo seja droga na nossa civilização. Essas pessoas precisam descobrir que a grande, a maior transgressão é não se permitir viver nem de acordo nem contra a cultura e a civilização. Nem contra, nem a favor. Nem enquadrado, nem revoltado. A grande transgressão é ser simples. A grande transgressão é ter saúde. Saúde dá barato. A grande revolução é o óbvio, o que está na cara, mas ninguém enxerga. A grande transgressão é ser natural.

O que os mestres chamavam de maya, ilusão, é esse mundo paralelo criado pelo homem-mulher doente, a partir do pecado capital – a ruptura com o programa da natureza. Nós passamos a acreditar na descrição que nos fazem do mundo, da vida. Mas a Naturologia, para as pessoas chamadas normais, acaba se transformando em mais um paliativo. As pessoas, no fundo, querem ser “curadas”, embora a Naturologia insista que não há doenças e que, portanto, não existe cura. E depois de um tempo voltam para suas vidinhas normais. E, aí, voltam os sintomas, e elas acham que não foram “curadas”, e acabam de novo, ou insistindo na Naturologia, ou caindo nas garras dos “bem intencionados” médicos, que sufocam os sintomas e “curam” as doenças, colocando essas pessoas de novo no mercado para serem “úteis” ao sistema.

O caminho não é adotar a postura de um professor - porque ninguém ensina ninguém, no sentido clássico de “ensinar”. Não adianta, apenas, transferir ou tentar transferir o conhecimento da Naturologia para outras pessoas. As pessoas ainda acreditam em nações, ainda perseguem ideologias, ainda acreditam de alguma forma em revoluções transformadoras, ainda acreditam em sociedades secretas mais inteligentes que dominam as pessoas mais ignorantes. Não que elas não existam: existem. Mas isso é irrelevante. Porque todos, dominadores e dominados, são vítimas da mesma ignorância básica, caminham todos para a mesma destruição, padecem todos das mesmas “doenças”. Não podemos julgar pela lente da normalidade. E não podemos dar crédito à chamada realidade. Mais ainda: nem contra, nem a favor, porque são dois lados da mesma moeda, são a mesma energia.

Pouco importa se há seres humanos (será que ainda são humanos?) que usam sua inteligência para impor seus dogmas, (des)orientar nossa cultura, dominar os povos, porque todos estão dentro do círculo de maya. É a mesma corrente da humanidade que está perto do impasse total e a caminho da destruição global e globalizada.

Devemos ter mais estratégia, atrair as pessoas certas, os “buscadores”, capazes de encontrar a inteligência infinita – pode chamar de iluminação. Sem a postura agressiva do “contra”. Temos que estar no mundo sem ser do mundo. Sem nos afetarmos, porém. Sem nos identificarmos. E de algum modo, quando nos colocamos contra, nos identificamos com todo esse lixo. A estratégia é trabalhar pessoas, fundir conhecimentos, se apartar, mas permanecer no mundo.

A meditação é uma estratégia para jogar fora o lixo acumulado nos escaninhos da memória, no chamado subconsciente ou no inconsciente coletivo, em conseqüência dessa civilização doente, criada, mantida e transmitida por homens doentes. A correia de transmissão é a cultura. A âncora é a história. Mas a meditação trabalha na conseqüência – o homem fora de seu centro, vivendo uma vida ilusória e anti-humana. Vivendo como máquina. Como robô genético. A Naturologia trabalha na causa – a desconexão com a natureza. E um encontro é possível – e bem-vindo. De uma certa forma, já houve esse encontro.

A Naturologia re-liga brutalmente o homem à natureza. E, aí, pode se dizer que ela é uma religião – a religião fundamental do homem. A religião natural do homem. Ou o estado natural do homem, o que é a mesma coisa. O homem-deus, porque vive em harmonia com tudo e todos. Com a natureza. Com sua natureza. Em equilíbrio. Em êxtase. O nada pleno. A Naturologia é voltar a fluir com a natureza. A Naturologia coloca o homem brutalmente em contato consigo mesmo, com sua natureza e sem intermediários.

A maior lição da Naturologia é ao mesmo tempo a mais simples: não existem doenças, portanto não existe cura. Existe equilíbrio. Ou existe desequilíbrio, que provoca sintomas, sinais de socorro que o corpo emite. Eliminando a causa e livrando o corpo do lixo que acumulou, usando apenas terapias naturais, sem nenhum tipo de medicamento, nem mesmo as chamadas “plantas medicinais”, o efeito – que são as chamadas “doenças” – desaparecem. É simples assim. Esse conhecimento simples e óbvio leva à compreensão de todo o resto.

Da mesma forma, não há “cura” para a humanidade. O homem-mulher, ao cometer o pecado capital de se desapartar da natureza, de tentar ser outra coisa diferente do que ele é, criou uma sociedade doente e competitiva, que busca o santo graal ou o tesouro escondido, que não estão em lugar nenhum. Que está nele mesmo – tão longe e tão perto, encoberto pela ignorância que nos é imposta. Uma humanidade que luta pela sobrevivência, ao invés de viver. Que busca o crescimento e o progresso, ao invés de viver. O que existe está aqui e agora. O tesouro ficou para trás - naquele homo sapiens sapiens que foi abandonado antes de começar a história. Uma história que começamos a contar a partir do ponto zero da ignorância básica do homem.

Criamos, então, a doença, depois a morte, porque o homo sapiens sapiens não morre, já que a energia não morre, apenas se transforma; depois o tempo, porque deixamos de viver cada momento para projetar os nossos desejos no futuro ou vivermos de acordo com nosso passado, (des)orientados por ele e pelos ditadores que nos “guiam”, família, professores, padres, pastores, governadores, presidentes, deputados, senadores e outros tiranos de plantão. São cegos guiando cegos. Depois criamos, a partir da doença, a cultura e essa civilização doente, e passamos a contar a história dela – que não é a história do homo sapiens sapiens. Porque o homo sapiens sapiens não precisa de história. Porque ele vive cada momento. Não tem passado. E planta o futuro a cada momento, vivendo de acordo com a natureza e o conhecimento do real. Aqui-agora.

Agora, cabe a quem enxerga tentar atrair quem busca. O trabalho de desintoxicação é do corpo, da mente, de tudo que nos enfiaram goela a dentro, dessa civilização, desse círculo que destrói o indivíduo como unidade e parte de toda existência. Mergulhar na inteligência infinita, que não acredita no que lhe contam e lhe descrevem e que tira coelhos da cartola todo o tempo, assumindo a santa insegurança da vida.

Em equilíbrio, o homem está em estado meditativo. É uma questão de linguagem. Porque o sistema a tudo dilui. Dilui a meditação. Dilui a Naturologia. Para que o homem-mulher jamais se encontre consigo mesmo. O homem-mulher se apartou da natureza e começou a contar a história de uma humanidade, uma cultura e uma civilização que criaram um centro falso, uma ilusão, um delírio que chamam de vida.

A meditação ajuda a desobstruir os canais, jogar fora o lixo, encontrar o silêncio, estancar o diálogo interno, permitir o encontro do homem com a natureza. Não a meditação que nos chega através da diluição de um conhecimento, que é filtrada pela sociedade. Mas a meditação entendida como uma técnica para nos fazer enxergar o óbvio. É o êxtase, estar em cada momento, estar em harmonia com a natureza, com tudo que está em equilíbrio, se contentar em ser uma onda no oceano da vida. Inteligência infinita é outro nome para o que os mestres chamam de iluminação: estar livre das amarras da ignorância.

Precisamos criar uma linguagem mais adequada para atrair pessoas que estão buscando sair do círculo de maya e encontrar o real, a verdade, o absoluto, que muitos ainda chamam deus. Para colocar essas pessoas no trânsito contrário ao fluxo da humanidade, e que é a favor do homem. Para sair do círculo. E isso é a Naturologia – e é meditação.

Na Índia, há uma seita chamada de adoradores do diabo. Se riscarmos em torno de uma pessoa dessa seita um círculo, ainda que de giz, ela não consegue sair. Nem dez homens conseguem arrancá-la do círculo. Assim é a humanidade: as pessoas não conseguem sair do círculo. A Naturologia faz isso. Mas as pessoas acham que estão sendo “curadas”, e voltam para dentro do círculo. E não conseguem sair dele, nem puxadas por dez homens. Por isso temos que criar uma linguagem que não “ensine” a elas, porque ninguém ensina ninguém, mas que faça com que elas vivenciem, experimentem, se tornem de novo uma unidade. A partir da Naturologia. E da meditação. Naturologia, equilíbrio, que leva à meditação. Meditação, que leva a viver de acordo com a natureza.

Temos que ter mais estratégia. A tática do choque, de lutar contra a sociedade, os médicos, os aproveitadores que manejam formas milenares e sutis de dominação, faz parte da linguagem do círculo. Afasta, não agrega. Assusta. Choca, mas não dá abrigo. Não temos que ser táticos, mas estratégicos. Da mesma forma, a meditação, sem buscar a síntese brutal da síntese, sem depurar o corpo, para que o equilíbrio orgânico nos facilite entrar em estado meditativo, mergulhar no silêncio, nos reconectando com o todo, é continuar na máquina do tempo.

Temos que buscar uma conexão – Naturologia e meditação. Limpar o corpo e tornar a mente serva. Equilíbrio. Silêncio. Inteligência infinita. Intuição. Porque a maior transgressão é ter saúde. É não depender da química industrial, da economia globalizada, do abate de animais, da multidão, do conhecimento acadêmico, da cultura e da civilização. Que a Naturologia chama de “sifilização”.