O jornalista Fernando Lemos lança seu olhar crítico e provocativo sobre temas atuais, alimentando um debate sobre o Ponto de Interseção ao qual a Humanidade vem se submetendo para desfrutar dos "benefícios" da modernidade, sob a ótica da Naturologia e de um dos mais importantes gurus do ideal naturopata, Efraín Melara.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Quando nascemos

Quando nascemos, o nosso ser, que está no centro, no olho do furacão, começa a ser coberto do lixo dos condicionamentos. Ele está, coberto de lixo, quase soterrado, mas está lá. O lixo da História. O lixo da Humanidade por cima dele. A família, os professores, os sacerdotes, tentam nos transformar num robô genético, numa máquina obediente a leis e mandamentos, mas o nosso ser está lá, no centro. Imutável. Silencioso. Os alimentos que nos obrigam a ingerir, os hábitos que nos transferem, mudam a dinâmica do nosso corpo, nos tiram do centro orgânico, quebram nossa unidade com o todo, interferem até no mais sutil, desencadeando o mecanismo do pensamento incessante, do diálogo interno acelerado, quase desembestado, mas há uma testemunha que continua lá, no centro, a tudo observando. Imutável. Como estamos em eterna mutação, como a vibração eletrônica não cessa, estamos num processo incessante de metamorfose, permanentemente em transformação. Nascemos, damos os primeiros passos, aprendemos a linguagem, crescemos, ficamos jovens, envelhecemos, e o ser lá no centro permanece o mesmo, a tudo assistindo. Os condicionamentos – nacionalidade, posição dos astros, época da História, religião, mandamentos, cultura, grau de instrução, profissão, família, rede social etc. – nos moldam, criam em cada um de nós uma personalidade, um ego, uma armadura para a sobrevivência, estratégias, um caráter, uma esperteza, uma malícia. Mas, imutável, nosso ser continua lá, no centro, a tudo observando. Quando falamos ao ser, não estamos nos dirigindo ao ego. Mas se, ao falarmos com o ser, é o ego que ouve, o ego que assimila, não há comunicação. Há ruído. Quando estamos apenas preparando alguém para o crescimento, essa pessoa às vezes entende aquele processo como uma submissão ao ego. Aí, o eixo é quebrado. Não há mais comunicação. Não há mais transmissão. O ser continua lá. No centro, a tudo observando. Mas o ego interfere e não deixa que haja comunicação. As palavras e as ações perdem totalmente o sentido. Línguas diferentes deixem de se comunicar. O ser continua lá, no centro, pronto. Mas o ego interfere e não permite o grande encontro. O material se sobrepõe ao imaterial. A esperteza se sobrepõe à sabedoria. O ruído se sobrepõe ao silêncio. Não há mais comunicação. Definitivamente. O elo se rompe. O passado e o futuro voltam a se impor ao eterno presente. O tempo se sobrepõe ao eterno. O jeito que você usa para pedir as coisas não passa disso – o jeito que você usou. Mas você receberia de qualquer maneira, não conspurque porque você pediu de um certo jeito. Não fique escravo desta maneira de pedir. Liberte-se disso.

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