O jornalista Fernando Lemos lança seu olhar crítico e provocativo sobre temas atuais, alimentando um debate sobre o Ponto de Interseção ao qual a Humanidade vem se submetendo para desfrutar dos "benefícios" da modernidade, sob a ótica da Naturologia e de um dos mais importantes gurus do ideal naturopata, Efraín Melara.

sábado, 24 de março de 2007

A grande ficção

Você tem idéia de que está vivendo como parte, como ator de uma grande ficção? Você tem idéia de que está imerso em uma cultura que separou o homem da natureza, a parte do Todo, e que obriga você a viver uma anti-vida? Você tem noção de que nossa cultura competitiva, nossa ânsia pelo crescimento econômico, estão levando à destruição da vida? Você tem idéia das razões para você não lutar para sair desse círculo, desse globo da morte?

Vejo tudo de cabeça pra baixo... estou andando a pé e solitário na contramão de uma auto-estrada, os carros desviando, buzinando feito loucos... e eu andando, sem me cansar. Sem ligar pro trânsito enfurecido. De repente não estou mais numa auto-estrada. Estou no alto de um pico muito alto, olhando de longe para uma enorme megalópole, a multidão indo pro trabalho, os carros buzinando num grande engarrafamento, as nuvens de poluição como rolos de fumaça que sobem, mas não me atingem. Sirenes de polícia, tiros, ambulâncias levando doentes, acidentados. Muito sofrimento – tanto, que chega a subir um vórtice de energia carregada até as nuvens. Berrando. Chorando. Eu sou um observador distante, mas próximo, que acompanha tudo como um grande filme. Agora estou sentado em silêncio, sem pensar, num grande bosque, sentindo-me integrado à natureza, às árvores, aos bichos, ao rio, fluindo, enquanto uma multidão começa a se aproximar, me olhando como se fosse um animal estranho, me cercando, quase me cheirando – e eu impassível, escutando o silêncio. Agora, estou no meio de um monte de gente se preparando para uma batalha, municiando suas armas. Do outro lado, pessoas iguais a elas, fazendo o mesmo com suas armas, recebendo ordens de uns animais peludos, sem cérebro, que falavam muito alto frases desconexas. De repente um homem enorme, com um pedaço de pau na mão, se aproxima de mim, pronto para bater com o pedaço de pau na minha cabeça. Não estou mais no bosque. Agora estou flutuando sobre um pedaço de terra destruído por anos e anos de uso irresponsável de venenos pelo homem. Mais do que flutuando: estou nadando no ar. Como um peixe no oceano. A terra grita e chora, como um homem à beira da morte. Agora estou parado num rio, que flui com força, cortando a terra, superando obstáculos. Estou sintonizado com o rio. Fluindo com ele, embora sempre no mesmo lugar. Achava que era um sonho. Mas essas coisas estavam acontecendo comigo. Abri os olhos, e do meu lado estava um ser que dizia estar ali para me mostrar o que eu estava fazendo com o único planeta onde a energia da vida surgiu em todo o universo, como uma explosão de eletricidade. E como eu havia me colocado à parte da vida, do equilíbrio, do êxtase. Para construir uma enorme ficção que se alimenta dela mesmo, até a destruição. Perguntas surgiam na minha cabeça, eu nem as formulava, mas ele respondia. Nesse blog, vou tentar ordenar da melhor forma possível tudo que ele me disse. Fique atento.

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