O jornalista Fernando Lemos lança seu olhar crítico e provocativo sobre temas atuais, alimentando um debate sobre o Ponto de Interseção ao qual a Humanidade vem se submetendo para desfrutar dos "benefícios" da modernidade, sob a ótica da Naturologia e de um dos mais importantes gurus do ideal naturopata, Efraín Melara.

quarta-feira, 21 de março de 2007

As doenças básicas do homem

Propriedade privada - A partir do momento que, desconectado da natureza, o primeiro homem cercou o primeiro pedaço de terra que ele recebeu de graça e do qual ele é parte, inventando a propriedade privada, essa doença gerou diversas outras. Como o homem passou a ser dono de alguma coisa, um pedaço de terra, e a casa que erigiu nesse pedaço de terra, criou a doença chamada família – porque, como era “dono”, alguém de seu sangue tinha que herdar sua “propriedade”, e assim nasceu a família, a “base de tudo”, de acordo com o que hoje conhecemos como Igreja. A base, sim, de doenças civilizatórias. Porque é na família que começou a ser gerada essa cultura de morte na qual vivemos. É na família que começaram os condicionamentos.

Como as pessoas eram donas de pedaços de terra, inventaram também a ambição. O desejo de querer sempre mais, de acumular. E a ambição gerou primeiro os feudos, depois as nações, em seguida mos impérios e reinos. E vieram as guerras de conquistas, as invasões, a destruição de civilizações inteiras, como os maias e astecas, por povos mais “civilizados” – na verdade, mais “doentes”. Que impunham suas doenças aos outros. O homem passou a viver de mitos, desde quando se desconectou do todo.

Progresso e crescimento - Depois da propriedade privada, do advento das nações, veio a noção da necessidade do progresso e do crescimento. Que, hoje, chega ao seu limite, com o esgotamento crescente dos recursos naturais. Nada contra o progresso. Mas o progresso real. O homem pensa, e pensa sobre o que pensa, é o maior refinamento dentro do que conhecemos como natureza. Mas crescer sem destruir, sem conquistar o que já é seu, sem criar as doenças, e sem, a partir da doença, crescer no rumo da destruição do todo, porque o homem se apartou dele, deixou de ser uma um unidade com ele, e por isso deixou de ser responsável por ele. E, conseq üentemente, por sua própria sobrevivência, porque não deixou de ser parte do todo, só porque deixou de perceber que é.

Tempo - O tempo não existe de fato, o que existe é a rotação da terra em torno do sol, que cria a ilusão do tempo, porque escurece num determinado lugar quando o sol está distante, fazendo-se a noite, e fica claro em outro determinado lugar, onde o sol está mais próximo, fazendo-se o dia, o que cria a ilusão de que o tempo passa. Para quem vive o momento, e para as pessoas que não estão doentes o tempo não existe, de fato, somente o, momento, o agora. E só existe um lugar, o aqui.

O homem doente criou o tempo e deixou de viver o momento, deixou de viver conectado à natureza, um com ela – o presente que nós recebemos é o eterno presente. Que o homem ganhou de graça e dele abriu mão, em nome da doença. Para os animais, as plantas, os minerais, a natureza enfim, não existe tempo, existem ciclos vibratórios e energia em transformação. Tudo muda. Somos uma metamorfose ambulante, como dizia Raul Seixas.

Morte - A morte também não existe. É uma conseqüência da invenção do tempo. O que existe é energia em transformação. A energia não morre, ela apenas se transforma. O que chamamos de morte é uma transição energética. A conclusão de um ciclo vibratório que deveria ser perfeito. Como os elefantes, que sentem o fim do ciclo e se dirigem a um local onde deitam e se fundem com a terra. E que os homens, idiotas, chamam de “cemitério de elefantes”.

Alimentação protéica - Outro mito é a chamada alimentação protéica. A noção de que o homem precisa se alimentar de proteínas. Ele não precisa se alimentar de proteínas. Como os outros animais, ele precisa produzir as proteínas em seu próprio organismo, através da absorção dos aminoácidos necessários, e do hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. A introdução de proteínas de outros animais no organismo humano provoca a desordem celular chamada câncer. Quem se alimenta de animais é cancerígeno. Porque no DNA de outro bicho, a vibração eletrônica de outra espécie, confunde a ordem celular, e desencadeia um processo de desdobramento não uniforme. Que os médicos chamam de câncer. Ao se desapartar da natureza, o homem perdeu o instinto. Os animais sabem instintivamente do que devem se alimentar. Quando devem trepar. O homem matou o instinto.

Medo - Com o tempo e a morte surgiram, em conseqüência, outras invenções diabólicas, como o medo, porque se existem o tempo e a morte, passou a existir a insegurança. E a insegurança se desdobrou em medo. Na necessidade de segurança. Quando a vida é, por definição, insegurança.

Deus - Porque se o homem se desconectou da energia que está em tudo e em todos, deixando de ser um com a natureza, deu um nome ou vários nomes para essa energia, criando os deuses – um panteão de deuses. Mais tarde, pessoas espertas, para explorar a ignorância da maioria, das multidões, sintetizaram o panteão dos deuses num só deus, criando o monoteísmo. E para impor o monoteísmo às civilizações que cultuavam diversos deuses, fez as cruzadas, as guerras religiosas, fez a Inquisição, onde os bruxos, que desrespeitavam o poder do monoteísmo, eram queimados na fogueira. Para que todos engolissem a existência do deus que parece um voyeur que tudo vê, tudo ouve, tudo acompanha, tudo julga, criando a culpa, inventaram o céu e o inferno. Para que as pessoas aceitassem esse dogma, criaram a fé, que nada mais é que a aceitação da ignorância, sem análises. A fé faz o homem aceitar os dogmas sem discussões. Embrutecendo o homem, sufocando sua inteligência.

Falso conhecimento e falsas ciências - O homem desconectado quer conhecer, por isso procura, mas nem sabe o que está procurando. Mas o que ele precisa é se reconectar – o resto é como a peruca do careca - são ilusões de quem perdeu o rumo. O homem fica procurando ficções como Dom Quixote combatendo moinhos.

Doenças, medicinas e curas - Olhando a doença, que ele mesmo inventou ao gerar o desequilíbrio funcional pela alimentação inadequada, o homem não entendeu nada, e passou a buscar a eliminação do que chamou de doenças. E inventou as medicinas, o curandeirismo, buscando “curar” as doenças. Mas doenças nbão se curam. São sintomas. Sintomas se eliminam, pela simples restauração do equilíbrio funcional, o que não se obtém com agentes externos, pura e simplesmente voltando a respeitar as leis biológicas, e eliminando os detritos que o organismo acumulou com anos e anos de transgressões às leis naturais.

Dinheiro - Como o homem passou a ser dono de coisas, como o homem passou a se alimentar contra a sua natureza intrínseca, criando as doenças, não tinha mais tudo à sua disposição, como os outros animais. Passou a trocar, primeiro com o escambo, e a comprar, depois, quando inventou o dinheiro. Comprar alimentos. Comprar propriedades. Comprar saúde. Comprar pessoas. Comprar a morte. Acumular. Hoje, estamos no ápice desse processo, no qual o capitalismo foi globalizado, onde o dinheiro é virtual, navega pela Internet, quebra países e empresas por pura especulação, que é um jogo de perde e ganha interminável.

Nações - Depois da propriedade privada, o homem inventou as nações, inventando também as fronteiras. Quem vê de cima não enxerga as assim chamadas fronteiras, que são traços, riscos de giz na terra. As fronteiras não existem. E as nações não existem. São ficções. Mas as pessoas nascem dentro de nações, e as nações determinam sua cultura, determinam se a pessoa é rica ou pobre, poderosa ou fraca. O indivíduo existe. As nações são ficções.

Poder - Destituído do poder que lhe é inerente, o poder de ser feliz, e capaz de ser dono de coisas, vivendo em nações, em sociedade, o homem inventou o poder, e faz tudo em nome do poder. E a verdade é que só os mais fracos é que buscam o poder. Quem conhece seu verdadeiro poder não busca fora o poder que já detém.

Crimes - Os crimes são doenças sociais. Com a propriedade privada, o dinheiro, a dominação, as guerras de conquistas, a superpopulação, uns têm mais, outros têm menos. Uns fazem regime, outros passam fome. A comida não dá para todos. Mas os desejos – necessários para garantir o crescimento através do consumismo – são insuflados, são incentivados, são vendidos mesmo para quem não tem como comprar os objetos do desejo. E a quem não tem acesso aos objetos do desejo, só resta um caminho: tomar o poder pelas armas. Tirar de quem tem o que ele foi levado a ambicionar. Em si, não há diferença entre pessoas que são consideradas criminosas e pessoas que exercem o poder, mandam matar, decidem o futuro de outras pessoas. São iguais. Assim como não há diferença básica entre as chamadas drogas (ilegais) e as drogas legais, que somos forçados pela publicidade a consumir (medicamentos, bebidas alcoólicas, bebidas químicas, cigarros, charutos e cachimbos etc.).

Desejo - Em função dessa perda, dessa opção pelo desequilíbrio através de uma alimentação inadequada, o homem inventou o desejo. E o desejo o move, alimentando a ficção na qual o homem vive. Não desejar é a maior transgressão.

Ego - O desejo criou o ego, outra doença grave do homem. Uma personalidade, que vem de persona, máscara, para garantir a sobrevivência na família doente, na sociedade doente, na civilização doente. O ego sufoca o ser real.

Sexo e superpopulação - Ao abandonar o instinto, o homem também transformou o sexo. E criou a superpopulação. Que sufoca o planeta. Esgota seus recursos naturais. O homem é o único animal que trepa. E que procria além dos limites do equilíbrio, uma marca da natureza. Até porque livrou-se dos predadores naturais.

Multidão - Outra doença é a multidão. O homem, que sacrificou sua individualidade quando se desconectou do todo, deixando de viver o momento por causa da doença chamada tempo, se dissolveu na multidão, porque a multidão não tem responsabilidade, não precisa pensar, não precisa decidir, não precisa escolher. As multidões são levadas, como bois para o matadouro. Ao homem na multidão, tudo acontece.

A busca do prazer - Outra doença gerada a partir do pecado capital cometido pelo homem: a busca do prazer, porque o homem sacrificou o êxtase no altar do desejo. Desapartado do êxtase, o homem busca o prazer do lado de fora, quando o prazer é natural no homem. É seu instinto.

A verdade - Outra doença básica é a busca da verdade do lado de fora, no exterior, quando ela está no interior, dentro de cada um. Certas pessoas têm insights da verdade, uma visão parcial dela. São as pessoas limítrofes, os loucos, os artistas, os assim chamados místicos. Mas todos pensam sobre a verdade, buscam a verdade, mas não a reconhecem em seu interior por causa da doença básica do homem, e porque não enxerga o óbvio, o que está na cara. Se a verdade o cutucar, o homem a repele, porque está tomado pelos desejos, pelos pensamentos descontrolados, pelo diálogo interno incessante e entediante.

Nenhum comentário: